16 de dezembro de 2010

os paraísos artificiais

Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.


Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especializadas para desenraizar as árvores.


O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º
E a música do vento é frio nos pardieiros.


Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.


A minha terra não é inefável.
A minha vida na terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.


Jorge de Sena, in Pedra Filosofal

Hortense César. (1974). Antologia Poética - 5. 1ª edição. Porto Editora

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Anónimo,  19/12/10 22:06  

Recebo o abraço desses braços. Sabe-me tão bem! Amigo, doce Amigo. "Poeta da Montanha!"
Um beijo

rmf 26/12/10 15:04  

Um abraço, Maria!

Boas festas!









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